18.11.12

Aquele Brilho

Sabe aquela sensação de que tudo parece certo, correto e verdadeiro em uma fração de segundos? Este é o sentimento que me atinge, que me incorpora e me toma de surpresa toda vez que me percebo perdido no jeito ridículo de dançar dela.

Você, toda torta, se achando a rainha do baile. Mas pouco importa-se e lixa-se para aquilo que os outros, e muito menos eu, estamos pensando. Você, provavelmente, embriagada, desliza por entre as pessoas no bar ao som frenético que vem das caixas de som espalhadas pelo lugar.

E quando me percebe olhando pelos cantos para você, intimida-se. Como se estivesse realmente se importando com o que penso de você. Seu rosto corado, é verdade. Mas isso é causa das variadas doses misturadas durante a noite. E apesar disto, uma graça.

Que merda! Eu realmente gosto de você. Só de bater meus olhos em você, eu sei. Quer dizer, eu não consigo explicar. Nem bem eu entendo porque demônios sinto algo por você. Queria que houvesse uma explicação razoável para isto. Mas para este bobo, as coisas funcionam assim.

Funcionam dessa forma, você apresenta-se:

"Olá, estranho." - "Ih garota, que papinho é esse? Vai fingir que não me conhece?"
"Porra... você não sabe brincar não?" - "Ahn... do que você quer brincar?"
"Hummm" Mede o rapaz de cima a baixo. - "Ahaha muito engraçado."
"Se liga!" - "Vai te catar."

Ok. Na verdade, a intenção era escrever outra coisa. Mas romances melosos e espalhafatosos não existem. Pra ser bem sincero, eu acredito que sim, existam! Mas com muito mais sexo no interim. Início, meio e fim (?). Feliz ou não.

Contos de fadas não têm sexo! Afinal, que graça tem? Princípes e princesas não fazem sexo. Selam a paz e a vida do reino com um único beijo. É um desperdício.

Ela não sabe que eu gosto dela. Ou talvez esteja encondendo de si mesma tudo isso. Eu não lá sou muito bom para dizer o que sinto também, porque meu medo é estragar algo que não teve nem início. O platônico tem uma visão muito complicada do amor. Ele prefere não estragar algo que nem está lá para ser estragado. É, vai entender.

Mas essa garota, ahhhh, essa garota. Nós nos beijamos algumas vezes. Foi louco. Tinha certeza de que eu naquela noite estava bem estragado, e ela também devia estar. Porque aquilo foi meio selvagem. É claro, estavámos escondidos. Não queria ninguém nos enchendo o saco, pela vergonha alheia. Mas foi muito gostoso, confesso. Foi uma disputa para quem dava o beijo mais elaborado. Mesmo que nenhuma das partes atuasse conjuntamente.

Eu lembro desse dia, como o caminho de casa. Nós nunca falamos sobre isso. Embora minha vontade seja absurdamente grande. Quem sabe para algo errado, alguma coisa certa surja. Passa tempo, passa.

"Eu lembro" - "O que você disse?" - "Eu disse que me lembro."
"Não sei do que está falando ha ha." Eu tentei disfarçar, mas minha risada me denuncia. Droga! - "Por que você quer se esconder? Me diz!" - "Ah... eu..."
"Pelo amor de Deus!" - "Mas como... por... daonde tirou isso da cabeça para vir conversar agora?" - "Olha, pra ser sincera, eu estava esperando você fazer alguma coisa, mas puta que pariu, como você é lerdo!" - "Cacete! Joga na cara!"

Silêncio...

"Não vai fazer nada." - "Peraí, vamos do início, deixa eu me concentrar. Ok... vamos lá. Eu estava pensando sobre aquela noite... selvagem... haha." - "Nem me fale... você estava bêbado." "Você não estava?" - "Não." - "E... mesmo depois daquela má impressão, você ainda resolveu continuar falando comigo?" - "Foi estranho, e você realmente parecia saber o que estava fazendo, apesar de não, mas... você é esquisito." - "E isso é bom? Espero..." - "Sim, foi diferente, eu nunca me senti daquele jeito..." - "Errr..."

Cara... onde eu enfiaria a fuça?

A gente ficou se entreolhando, e acabamos nos virando e dando umas voltas pelo recinto. Eu fui... direto ao bar. Ok, manda uma, manda duas, três, quatro... ok, chega!

Platônico é o caralho. Se ela veio falar comigo. Vocês devem estar se perguntando: "Que puta narrativa confusa dos infernos." É... eu sei que é. Mas aí é que está. Isso é diferente.

Vamos voltar à louca. Quer dizer, o doce sabor de pêssego com vodka daquela noite há alguns meses. Ela conhecia alguém, que conhecia alguém que me conhecia que acabou me conhecendo, e no meio de todo esse entrevero de pessoas que se conhecem, nos conhecemos. Oh! Eu me diverti horrores com ela naquela noite. O universo tinha sido, ao menos uma vez, bondoso comigo. Sabe, eu não saío tanto. E quando isso me ocorre, tento aproveitar as poucas horas com prazer. Como um trago vagaroso do cigarro. E eu nem gosto de cigarros.

Nós ficamos juntos, não lembro bem porquê. Eu sou horrível em cantadas ou em qualquer tipo de investida. Eu tenho uma ideia confusa do que seja um galanteio. Eu figuro muito na minha cabeça. Eu sei que grande maioria dos homens falam uma pequena merda, e grande maioria das mulheres vai na onda por não terem muito melhor o que fazerem. Odeio a grande maioria. Odeio.

Ao bar, fingia virar algumas doses. Mas eu ficava a observando.

Ela, com sua risada reconhecível. Engraçada e diferente. Uma mulher única. Eu estava encantado, ainda mais depois de tê-la conhecido melhor. Um verdadeiro furacão de informação.

E ela tinha o brilho nos olhos. Eu enxergava esse brilho em poucas mulheres. E ela tinha. E o que era pior, ela parecia gostar de mim. Ás vezes eu não sei bem o que acontece, esse lance amoroso não é comigo. Gostar, desgostar. Tudo parece igual. Mas aqui, creio, era diferente.

O brilho nela me deixava abismado.

Ao lado desta garrafa me indagava o que vai ser desta noite. Destes dias, de nós.

No dia seguinte, eu acordava caído, ao lado da cama. Apesar disso, tinha dormido bem. Meu celular ao chão, os lençois na minha cabeça. Provavelmente, cheguei bêbado, tirei a roupa toda e me atirei aqui. Típico. Até perceber um sutiã pendurado na porta entreaberta. Olho para trás.

Acho que lembrei de tudo agora.