28.4.13

Plenitude


Na superfície dos mares meu corpo emerge, e se apresenta à iluminação acalorada pela imagem de uma figura circular, que se encontra flutuando ao lado de algodões em movimento. Eu finalmente inspiro. Com dificuldade por assim não fazer há tempos. As profundezas salgadas e escuras retiraram o que de mais doce havia em meu coração. Mas finalmente respiro.

Balançando nas águas de um oásis infinito de ilusões. As coincidências que me encontraram se tornaram visões de um passado. A experiência da falta de oxigênio não tende a me sufocar jamais. Nesse deserto de águas o único rosto que guia as ondas do mar, com sua boca a assoprar, com seus lábios a me levar. O rosto é seu. As sombras que contornam a fisionomia me lembram você. E não me assusto pois agora sei que não enxergo miragens, você é a certeza que dissemina uma nova chuva de prazeres.

Tempestade que refresca minha mente. As ondas formadas pelos furiosos sopros de seus lábios me levam à encosta de uma praia solitária, habitada somente por pequenos seres de cascos digladiando contra suas próprias forças naturais. Em busca de vida. Fico desacordado, enquanto a noite baixa. E o meu corpo esfria, ordenando pela presença do seu. Atirado à areia, sinto a maré bater e rebater. Repetitivamente, pedindo para que acordasse. Pedindo para que levantasse. O meu corpo frio recebe um toque quente.

O meu rosto esquenta conforme a sua voz aproxima-se de meus ouvidos. Começo a me corar. Você trouxe-me de volta de uma ilusão de sonhos. Suas palavras me despertaram. Seu abraço me esquenta. Seu beijo me fortalece.

Não sei mais quantos dias viverei. Isso é mais forte do que eu. Apenas a certeza de seu amor torna plena a minha vida. Fique comigo, nesses últimos dias.

24.3.13

Reciprocidade

Acredito que reciprocidade é o sentimento que mais fascina e surpreende nas pessoas. Fascina pois é algo tão puro de se sentir e de se ter com alguém, algo singular, e causa surpresa porque acontecem em momentos inusitados.

Inoportunas são as situações em que se depara com a falta dele. E é quando mais machuca, embora, e talvez até pense assim de certa forma ingênua, a maioria das pessoas não tenham essa intenção. Elas simplesmente não tem a noção do quanto suas atitudes podem atingir outras pessoas. E isso pode ter relação com o que ela experimentou anteriormente.

Infelizmente, essa é uma bola de neve sem fim. Até porque falta para a maioria das pessoas inteligência emocional para entender, antecipar e tomar a melhor atitude na situação adequada para não machucar outras pessoas.

E a beleza da reciprocidade, de quando ela ocorre, de forma inesperada, é isso. É saber que do outro lado há um esforço suficiente para interação com outra pessoa. Belo e puro. O significado de que há uma vontade suficiente para que as coisas aconteçam em uma relação, seja de amizade ou amor. E quando não há expectativa nenhuma, isso ainda é mais bizarramente recebido com alegria. É um sacrilégio receber esse tipo de coisa com estranheza, mas é inevitável sentir de forma estranha quando não se espera.

Alguns tipos de pessoas valorizam muito seus relacionamentos. Suas amizades e o amor que sente por várias pessoas que fazem parte da sua vida. Elas tentam estar presentes nas vidas delas o máximo de tempo possível e que lhes for concedido. As chateiam quando não existe nada do outro lado. Mas não levam isso adiante. Sabem, também que, como já mencionei anteriormente, a infinidade de experiências que uma pessoa vivencia na vida dela, leva ela a tomar atitudes estúpidas com gente que a ama e tenta demonstrar isso das melhores formas possíveis. Isso também cai na questão da falta de maturidade em relação a inteligência emocional e do quanto algumas pessoas não estão preparadas para entenderem o quão profunda pode ser uma ligação entre duas pessoas.

Penso também que a maioria das pessoas tem medo desse tipo de pessoa. Pessoas compenetradas e que têm plena consciência das suas atitudes, vontades, gostos. Se elas querem, elas fazem e correm atrás. Se não houver reciprocidade, elas ignoram. Mas nunca partem pro abandono. As pessoas se desenvolvem, se tornam completas. Elas não mudam, elas agregam valores. E uma pessoa que você mal conhecia hoje, pode se tornar a mulher da sua vida amanhã, alguém que você acorda às duas da manhã e faz questão de te ver.

17.3.13

Espero Que Ela Traga As Cobertas

Eu tinha esquecido o quão louco é esse sentimento. E toda a emoção que vem junto dele. Você faz coisas impensáveis e estúpidas e em um milésimo de segundos já se arrepende eternamente, e em um outro milésimo de segundos você se sente conformado. Eu não me sinto conformado. Conformado é uma palavra vazia. Nunca me sinto conformado. Conformado é aquele que aceita condições. Eu nunca aceitei condições. Eu sou muito teimoso. Acabava tomando mais atitudes estúpidas do que pensadas, sendo persistente, chato e incompreendido. E depois disso tudo, ainda estava inconformado.

Nunca me dei bem com limitações. Todos as possuímos. Eu, por exemplo, não sei falar mandarim. Isso é uma tremenda de uma limitação. Pois se algum dia eu fosse a China e me apaixonasse, eu não conseguiria me declarar apropriadamente. Mas não sou conformado. Portanto, eu usaria minhas super habilidades de mago suposto intelectual do amor e usaria gestos e atitudes. Coisa branda, simples, e que todos sempre hão de não fazerem.

Não são tantas mulheres assim. Esse rapaz não é prático suingueiro da noite. O plural utilizado é para se tirar o foco. E o foco me foi tirado da proposta desse texto. Só para me complicar um pouco mais. E quem está lendo, se é que você ainda se arriscou aventurar até os finais dessa linhas. Porque se sua curiosidade chegou até aqui acredito que esteja supondo algo sobre mim e a minha vontade de fugir para a Itália e abrir uma vinícola como bom samaritano campônes. Você supôs certo. Acredito que você deva conhecer mais sobre mim do que eu mesmo. Você deveria estar aqui escrevendo este texto, torna-lo romântico de certa forma, o bastante para que existam finais felizes.

Todo final feliz para mim passa por uma boa taça de vinho e uma louca noite de amor. O fato de eu estar tomando muito mais cerveja pode significar que alguma coisa está errada ou que ninguém mereça tomar um bom vinho. A suposição sobre abrir uma vinícola na Itália é meio desastrosa. As coisas não estão boas por aqueles lados. Até tem dono de grande organização renunciando o maior poder de todos, o de acenar feito bobo para milhares de alienados dizimeiros. Isso é engraçado.

Esse texto é sobre vinhos e cervejas. Frio e calor. Calor e ausência.

Eu não fumo, embora eu ainda tenha uma enorme vontade de posar singularmente a uma paisagem paradisíaca com as mãos enfeitadas pelo trago vagaroso de um cigarro. Eu não preciso fumar. Eu só preciso me fazer de tonto. E é como a melhor cerveja me faz sentir.

Eu senti o sabor dela algumas vezes, mas com um espaçamento terrível de tempo entre as sensações. Eu morria um pouco a cada gole. Alguma hora ia acabar. Mas não acabava pois fontes me trouxeram outras garrafas, e elas estavam geladas. Acompanhadas de muitas risadas.

Essa canção é sobre um rosto familiar já dizia o poeta. Mas tem gosto de cerveja, e um pouco de cigarro também. Eu ignorava o cigarro, o gosto da cerveja era mais prazeroso, vagaroso, culminante e comprometedor.

Me comprometia. Me comprometeu. Eu nunca mais fui o mesmo. Só mais um bêbado procurando cervejas com faces familiares que tentaram chegar aos pés do nobre gosto amoroso que me possuía em poucos momentos. E ela sempre conseguia me matar aos poucos. Com a distância, com a distância.

É que normalmente tem feito calor. Cerveja gelada é a melhor pedida. O vinho só virá com o frio e com as cobertas. Espero que ela traga as cobertas.

16.3.13

Expoente da Proteção no Infinitivo

No som do carro as nossas trilhas sonoras.

Eu voltei para casa pensando em muita coisa para lhe dizer. Coisas para algum dia lhe dizer. Coisas que traduzirão a forma como me senti naquele tão fatídico sentimento que se criara. Os mais puros segundos que senti em uma centena e meia de minutos.

Eu não posso lhe dizer agora. Embora meu comportamento displiscente de antemão, e tão bobo e relapso, diga para abrir mão do silêncio. Embora meu abdomên se retraia, conjure cada vez mais e mais aquele gelado torpor que chega e invade minha garganta. Que há de gritar engajando o amor que descobrira.

Chamaram a minha atenção por vezes no trabalho. Estavam curiosamente me observando olhando para o nada. Indagando como alguém pudera se tornar tão perdido em um pensamento como há nunca havia visto. 

"Olá!? Alguém procurando um pequeno e superflúo pontinho preto nesse vazio?" Me questionavam.

Eu retomava a atenção, e acenava com a cabeça. Não posso ser indiscreto. Mas pouco sei me esconder, o que mais faço é rir pelos cantos. Até as piadas sem graça do meu chefe se tornam lágrimas de riso ao ponto que tocam irritantemente o meu ouvido. Antes mera formalidade. Sorriso aqui, sorriso ali.

Sorriso ali, sorriso aqui.

Aqueles olhos mais claros.

Ah... seus olhos.

"Hey, acorda campeão! Meu relatório em dez minutos há de estar em minha mão!"

Agora, emburrado estava. Mas não por muito, o relatório lá estava, com cinco minutos. Para então, pelos próximos cinco, me concentrar em pensar em você. Cinco minutos, e o resto do dia. Da semana, do mês. Até a próxima oportunidade para lhe ver.

Em uma centena e meia de minutos pude saborear da sensação do complemento de minha alma. Já tive aqueles momentos mais brilhantes com outras pessoas, mas por alguma razão, aquilo tudo lá trás parece agora tão comum.

Aproveite o momento, rezava em minha mente. Guarde essas lembranças, elas fazem parte de nós dois agora. E nada irá apagar o que se viveu. E não será apenas meu comportamento embriagado que ficou denotado naquele raiar de dia. Foi também a espontaneidade com que me atingia e o carinho com que lhe portava em meu abraço.

E apesar da sobriedade com que tomo esse sentimento, saiba que o que mais quero são tomar de volta os quilometros que meu carro engoliu, ao som da sua canção, reprisando por horas e horas até meu destino. Toma-los de volta, para observar-lhe ao menos mais uma vez.

Eu estou aqui para lhe proteger do mau. Eu estou aqui para lhe oferecer muito mais. Eu sei do medo que tem de deixar aquilo de lado, eu compreendo. Mas com o tempo vai observar, em meu sorriso envergonhado e discreto a chance para algo mais. Sensações diferentes. Assim como sua surpreendente forma de surpreender-me, tão voraz.

E se não houver. Não temerei. Estarei aqui, para sempre lhe oferecer bem. E apenas lhe beijarei se fechares seus olhos, entreabrires seus lábios e esticares seu pescoço. Porque só eu sei como a fragrância da minha colônia provocou-lhe a ponto de morder-me sem pudor.

Lembre-se, que apenas os meus abraços são expoentes da proteção no infinitivo.

Nunca se atreva a esquecer. 

Pois eu sei que música colocar no rádio.