16.3.13

Expoente da Proteção no Infinitivo

No som do carro as nossas trilhas sonoras.

Eu voltei para casa pensando em muita coisa para lhe dizer. Coisas para algum dia lhe dizer. Coisas que traduzirão a forma como me senti naquele tão fatídico sentimento que se criara. Os mais puros segundos que senti em uma centena e meia de minutos.

Eu não posso lhe dizer agora. Embora meu comportamento displiscente de antemão, e tão bobo e relapso, diga para abrir mão do silêncio. Embora meu abdomên se retraia, conjure cada vez mais e mais aquele gelado torpor que chega e invade minha garganta. Que há de gritar engajando o amor que descobrira.

Chamaram a minha atenção por vezes no trabalho. Estavam curiosamente me observando olhando para o nada. Indagando como alguém pudera se tornar tão perdido em um pensamento como há nunca havia visto. 

"Olá!? Alguém procurando um pequeno e superflúo pontinho preto nesse vazio?" Me questionavam.

Eu retomava a atenção, e acenava com a cabeça. Não posso ser indiscreto. Mas pouco sei me esconder, o que mais faço é rir pelos cantos. Até as piadas sem graça do meu chefe se tornam lágrimas de riso ao ponto que tocam irritantemente o meu ouvido. Antes mera formalidade. Sorriso aqui, sorriso ali.

Sorriso ali, sorriso aqui.

Aqueles olhos mais claros.

Ah... seus olhos.

"Hey, acorda campeão! Meu relatório em dez minutos há de estar em minha mão!"

Agora, emburrado estava. Mas não por muito, o relatório lá estava, com cinco minutos. Para então, pelos próximos cinco, me concentrar em pensar em você. Cinco minutos, e o resto do dia. Da semana, do mês. Até a próxima oportunidade para lhe ver.

Em uma centena e meia de minutos pude saborear da sensação do complemento de minha alma. Já tive aqueles momentos mais brilhantes com outras pessoas, mas por alguma razão, aquilo tudo lá trás parece agora tão comum.

Aproveite o momento, rezava em minha mente. Guarde essas lembranças, elas fazem parte de nós dois agora. E nada irá apagar o que se viveu. E não será apenas meu comportamento embriagado que ficou denotado naquele raiar de dia. Foi também a espontaneidade com que me atingia e o carinho com que lhe portava em meu abraço.

E apesar da sobriedade com que tomo esse sentimento, saiba que o que mais quero são tomar de volta os quilometros que meu carro engoliu, ao som da sua canção, reprisando por horas e horas até meu destino. Toma-los de volta, para observar-lhe ao menos mais uma vez.

Eu estou aqui para lhe proteger do mau. Eu estou aqui para lhe oferecer muito mais. Eu sei do medo que tem de deixar aquilo de lado, eu compreendo. Mas com o tempo vai observar, em meu sorriso envergonhado e discreto a chance para algo mais. Sensações diferentes. Assim como sua surpreendente forma de surpreender-me, tão voraz.

E se não houver. Não temerei. Estarei aqui, para sempre lhe oferecer bem. E apenas lhe beijarei se fechares seus olhos, entreabrires seus lábios e esticares seu pescoço. Porque só eu sei como a fragrância da minha colônia provocou-lhe a ponto de morder-me sem pudor.

Lembre-se, que apenas os meus abraços são expoentes da proteção no infinitivo.

Nunca se atreva a esquecer. 

Pois eu sei que música colocar no rádio.