17.3.13

Espero Que Ela Traga As Cobertas

Eu tinha esquecido o quão louco é esse sentimento. E toda a emoção que vem junto dele. Você faz coisas impensáveis e estúpidas e em um milésimo de segundos já se arrepende eternamente, e em um outro milésimo de segundos você se sente conformado. Eu não me sinto conformado. Conformado é uma palavra vazia. Nunca me sinto conformado. Conformado é aquele que aceita condições. Eu nunca aceitei condições. Eu sou muito teimoso. Acabava tomando mais atitudes estúpidas do que pensadas, sendo persistente, chato e incompreendido. E depois disso tudo, ainda estava inconformado.

Nunca me dei bem com limitações. Todos as possuímos. Eu, por exemplo, não sei falar mandarim. Isso é uma tremenda de uma limitação. Pois se algum dia eu fosse a China e me apaixonasse, eu não conseguiria me declarar apropriadamente. Mas não sou conformado. Portanto, eu usaria minhas super habilidades de mago suposto intelectual do amor e usaria gestos e atitudes. Coisa branda, simples, e que todos sempre hão de não fazerem.

Não são tantas mulheres assim. Esse rapaz não é prático suingueiro da noite. O plural utilizado é para se tirar o foco. E o foco me foi tirado da proposta desse texto. Só para me complicar um pouco mais. E quem está lendo, se é que você ainda se arriscou aventurar até os finais dessa linhas. Porque se sua curiosidade chegou até aqui acredito que esteja supondo algo sobre mim e a minha vontade de fugir para a Itália e abrir uma vinícola como bom samaritano campônes. Você supôs certo. Acredito que você deva conhecer mais sobre mim do que eu mesmo. Você deveria estar aqui escrevendo este texto, torna-lo romântico de certa forma, o bastante para que existam finais felizes.

Todo final feliz para mim passa por uma boa taça de vinho e uma louca noite de amor. O fato de eu estar tomando muito mais cerveja pode significar que alguma coisa está errada ou que ninguém mereça tomar um bom vinho. A suposição sobre abrir uma vinícola na Itália é meio desastrosa. As coisas não estão boas por aqueles lados. Até tem dono de grande organização renunciando o maior poder de todos, o de acenar feito bobo para milhares de alienados dizimeiros. Isso é engraçado.

Esse texto é sobre vinhos e cervejas. Frio e calor. Calor e ausência.

Eu não fumo, embora eu ainda tenha uma enorme vontade de posar singularmente a uma paisagem paradisíaca com as mãos enfeitadas pelo trago vagaroso de um cigarro. Eu não preciso fumar. Eu só preciso me fazer de tonto. E é como a melhor cerveja me faz sentir.

Eu senti o sabor dela algumas vezes, mas com um espaçamento terrível de tempo entre as sensações. Eu morria um pouco a cada gole. Alguma hora ia acabar. Mas não acabava pois fontes me trouxeram outras garrafas, e elas estavam geladas. Acompanhadas de muitas risadas.

Essa canção é sobre um rosto familiar já dizia o poeta. Mas tem gosto de cerveja, e um pouco de cigarro também. Eu ignorava o cigarro, o gosto da cerveja era mais prazeroso, vagaroso, culminante e comprometedor.

Me comprometia. Me comprometeu. Eu nunca mais fui o mesmo. Só mais um bêbado procurando cervejas com faces familiares que tentaram chegar aos pés do nobre gosto amoroso que me possuía em poucos momentos. E ela sempre conseguia me matar aos poucos. Com a distância, com a distância.

É que normalmente tem feito calor. Cerveja gelada é a melhor pedida. O vinho só virá com o frio e com as cobertas. Espero que ela traga as cobertas.